segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Ohaguro: A antiga e curiosa prática das mulheres nipônicas de pintar os dentes de preto


O Japão é famoso pelos outros povos do mundo como um país de costumes estranhos. Um desses costumes se chama Ohaguro que pode-se traduzir como dentes pretos. É uma técnica milenar que está ligada a história japonesa. 
A prática era usada por mulheres onde elas pintavam os dentes de preto e por incrível que pareça essa cor era associada à beleza. Para o preparo da mistura não existia uma receita própria, mas utilizava-se no preparo tinta, acetato de ferro, chá e outros tipos de ingredientes. Mesmo assim, a cor não durava muito, por isso era necessário passar a mistura nos dentes praticamente todos os dias para conservá-los sempre coloridos.
Não se sabe com certeza quando teve início a prática do ohaguro. Contudo, admite-se que ela surgiu durante o Perído Nara da história do Japão (710 a 794 d.C.), em virtude da Imperatriz Genmei na ocasião em que apareceu ao povo com os dentes pretos. E sendo ela o maior sinal da alta nobreza nipônica, as mulheres que faziam parte das classes mais altas passaram a usar essa prática em seus dentes.  
 Com o passar dos anos, esse método foi se espalhando para uma porção maior da nação, sendo que até os homens também começaram a pintar os dentes. Além da finalidade estética, a prática do ohaguro servia também para precaver os dentes de problemas dentários como a cárie por exemplo.
Foi durante o Período Heian ( 794 a 1185 d.C.) que esta prática tornou-se comum para as mulheres aristocratas japonesas. O ohaguro apareceu nessa época no romance japonês Genji Monogatari de autoria atribuída a dama Murasaki Shikibu.
No Período Muromachi (1336 a 1573 d.C.), a prática do ohaguro se dispersou para parte do povo, inclusive para as filhas dos militares para a celebração do Shichi go san, uma festa para comemorar os 7 anos de idade, no qual as meninas eram maquiadas e vestiam roupas adultas.



Gravura japonesa mostrando mulher praticante do ohaguro com seus dentes pretos.

Já no Período Edo (1603 a 1868 d.C.) o ohaguro difundiu-se entre o povo. Era utilizado principalmente por mulheres casadas e por jovens na idade de se casar. Nesse tempo, o ohaguro começou a aparecer em ilustrações de ukiyo-e, arte de estampa japonesa em xilogravura. A técnica de colorir os dentes de preto durou por volta de 200 anos.
Durante o Período Meiji (1868 a 1912 d.C.), precisamente em 5 de fevereiro de 1870, o governo japonês vetou que se praticasse o ohaguro. Depois do Período Meiji, ele voltou a se dispersar, porém ao longo do Período Tasho (1912 a 1926 d.C.), o hábito ficou ultrapassado, até ter quase desaparecido.
O modo mais fácil de obter um preparo de tinta verdadeiramente escuro era liquefazer ferro em vinagre. O resultado desse processo era um solução marrom de acetato de ferro que se chamava kanemizu. Ao misturar essa solução com noz de galha ou pó de chá, ela alterava de cor e passava a ser insolúvel em água. O produto final ganhou o nome de fushiko.



Outras fórmulas dessas tintas podiam conter ácido sulfúrico, concha de ostra, arroz fermentado, metal enferrujado e vinho de arroz - o que casualmente acabava em uma tinta com um cheiro horrível ao olfato. 
Hoje em dia, os únicos locais onde é possível ver o ohaguro são nas peças do teatro kabuki, em espetáculos de gueixas ou hanamachi, no decorrer do treinamento das maikos (as aprendizes de gueixa), em alguns  matsuris (festivais japoneses), nos filmes ou nas Taiga Doramas (novelas de época) ou eventualmente em programas humorísticos da TV no qual o hábito é ironizado pelos atores cômicos. A tinta usada pelos atores japoneses para tingir os dentes é composta de cera derretida com carvão.



Segue abaixo um vídeo sobre a prática do ohaguro:











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